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As mulheres que voam

Das fotos de grafites e escritas em muros que se espalham pelas redes sociais, recentemente vi uma frase rabiscada em uma parede que indagava: Você é seguro o bastante para amar uma mulher que voa? Certa de que todos entenderam a metáfora e que ninguém pensou em mulheres com superpoderes tal qual a “Maravilha”, analisei o porquê de uma pergunta assim.

Dia desses li também a seguinte frase: “Já não se fazem mulheres como antigamente, mas homens sim”. De fato, as mulheres mudaram e que bom que não são mais as mesmas! Sem perder a essência, cada vez mais se transformam em tudo o que querem ser.  As jovens entre dezoito e trinta anos que antigamente se limitavam a serem donas de um belo rosto, um corpo atraente e uma beleza toda cor de rosa, hoje são donas das próprias palavras e palavrões, de opiniões sobre homens, maquiagens, futebol, política e economia. Dirigem seus carros, compram suas coisas, pagam suas contas (salvo as exceções que ainda se deleitam com os costumes do cavalheirismo).

No entanto, se por um lado a nova geração de mulheres é vista positivamente, por outro,  torna-se difícil encontrar homens dispostos a encará-las de frente: as mulheres que voam não servem para os homens que caminham. Não é à toa que por trás de cada mulher qualificada apenas como “meiga”, “fofa”, “bonita”, “gatinha” e “gostosa”, existe uma advogada, empresária, mestre, doutora, contadora e engenheira civil que eles preferem não mencionar.

Em certa ocasião, um amigo me disse que estava se sentindo empolgado, mas ao mesmo tempo estranho ao se relacionar com uma garota que tinha seu próprio carro, dirigia, fazia faculdade em outra cidade e até se oferecia para buscá-lo quando queria vê-lo: “Sei lá, é meio esquisito porque eu gosto de ser o que dirige e busca, aliás, eu sempre fui”. Após alertá-lo para desencanar desses costumes machistas e curtir o envolvimento, percebi que o principal problema é o medo: muitos homens temem estar ao lado de mulheres potentes.

Diante de uma mulher que não se impressiona com dinheiro, com carro e com encantos socioeconômicos e profissionais, eles se sentem inseguros. É como se ficassem sem trunfos na hora da conquista, tornam-se vulneráveis, assim como, por tanto tempo, nos sentimos diante deles. É que agora a mulher busca em si mesma a postura segura e independente que sempre vislumbrou no mundo de meninos.

Por isso aquelas que, além de esbanjar beleza, também falam, se posicionam, se bastam, sentam com a amigas na mesa do bar e não precisam de uma presença masculina para se sentirem interessantes, são por vezes mulheres sozinhas, que os caras evitam.

Entre essas e as outras que ainda performam passivas e delicadas, eles optam pela segunda opção, pois é na zona de conforto que preferem ficar, o lugar onde a masculinidade –  segundo suas visões distorcidas – não está ameaçada.

E o que fazem, então, as mulheres fortes? Bem, nada de mudar ou diminuir-se em prol das expectativas masculinas, no máximo ir devagar com as asas para não assustá-los (insira uma carga de ironia nesta frase).

Afinal, os homens que se atrevem a conquistar e conviver com as garotas que voam, são também os que verdadeiramente valem à pena. Livres do ego machista, vivem os amores mais intensos e arrebatadores ao lado delas e, cheios de uma espontaneidade nova, descobrem o quanto é prazeroso partilhar carinho, afeto e amor sem hierarquias. O homem que, sem impedi-la de voar, alça voo ao seu lado, definitivamente, merece o céu que ela tem a oferecer.