Quarenta anos depois e o cancelamento da festa nacional. A única canção que nos vem é de Geraldo Azevedo. Afinal, Olê lê lê: cadê meu carnaval?
Onde está o burburinho pelo ar, as expectativas nos corações, os blocos pelas ruas? A explosão de sorrisos, serpentinas e confetes?
Hoje não é o carnaval que está morrendo, mas sim seus foliões.
A festa que é marca de toda a diversidade cultural e artística brasileira, neste ano, não há.
Os dias em que expurgamos as dores, tristezas e frustrações de um ano inteiro: não escutamos os teus sinais. Quem poderia imaginar?
Em seu lugar, há um vírus que circula celeradamente.
Em 2020, ele já estava entre nós e virou até fantasia. Todos achávamos que era fantasia. Não foi.
Persiste o vírus.
Persiste o medo, a revolta com arbitrariedades, as confusões informacionais, as disputas ideológicas, as inseguranças financeiras.
De repente, já não podemos festejar, nem abraçar, nem beijar e nem exalar felicidade e emoção. Trocamos as máscaras decoradas, pelas máscaras de proteção.
Mas Dona Luzia perdeu seu marido; Jéssica, perdeu seu irmão; Josivaldo, despediu-se da esposa. Mayara; nunca mais verá o namorado; e Rita, disse adeus ao marido e ao enteado.
Estamos vivos. Aquietemos nosso coração.
O carnaval deste ano é contido e generoso.
Desceu de sua pompa com lantejoulas e plumas, marchinhas e danças, para se espalhar no cotidiano sofrido e sedento de pedaços bons de alegria – como diria Guimarães.
É carnaval quando um Instituto brasileiro produz uma vacina.
É carnaval quando a Ciência luta bravamente pelo bem de todos.
É carnaval quando um motorista de aplicativo leva idosos para receber a vacinação sem cobrar nada.
É carnaval quando um paciente se recupera da Covid-19.
É carnaval quando os profissionais da saúde são vacinados.
É carnaval quando todos se mobilizam para ajudar quem precisa.
É carnaval quando conseguimos respirar.
É carnaval quando sentimos o ar nos pulmões.
E será carnaval quando as taxas de contágio e de morte ficarem no passado.
“Quem sabe um dia a paz vence a guerra e viver será só festejar”. Evandro Rodrigues