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Carta de despedida

            Todas as manhãs, acordo tendo que reinventar-me, não sei mais quem sou e não me encaixo no que fui. Você é minha lembrança traumática dos últimos 40 dias e a única pessoa que esteve ao meu lado nos últimos 4 anos. Choro de emoção ao lembrar do que fomos, choro de tristeza por saber que não seremos mais. O medo dessa separação cruel e dolorosa me assombra, a morte interna e/ou externa, sonda meus pensamentos por várias vezes ao dia, o futuro me causa apreensão e previsões de sofrimento. 

              Apesar de tudo sigo em frente, para te ver também seguindo e para um dia conseguir ser feliz por inteiro, refazer-me em um, depois de ter vivido tanto tempo sendo dois. Eu e você. Apesar das mágoas remoídas e decepções vividas, o gosto do nosso beijo, para mim, será sempre o melhor. Não importam os danos que o tempo nos causou, minhas tantas fraquezas e suas repentinas desistências de nós dois, a nossa pele e contato físico sempre serão a lembrança das melhores sensações que tive na vida. Só teus lábios e teu toque me fizeram viajar pelo espaço, mesmo estando dentro de um quartinho, com aquela cama pequena sendo testemunha de nós dois.  Você era só um menino com medo da vida difícil e cheia de sacrifícios que tinha ao meu lado, eu te entendo. Companheiro, amigo, namorado, tudo isso perco hoje, para ganhar a independência emocional que preciso, que precisamos. Por tanto te amar, não posso mais ser sua namorada , não posso viver com você um relacionamento “meia-boca”, fomos intensos demais para isso. 

               Se não podemos ser “cem por cento” juntos, que busquemos nosso “cem por cento” sozinhos. Conformar-se com um final não é nada fácil. Quando existe amor, pior ainda. No entanto, saber que é necessário dar fim a uma história que se prolongou demais, é essencial. Que seus olhos ainda se cruzem com os meus mais algumas vezes, mas que saibam a hora de se esquecerem para sempre. Que seus sorrisos sejam motivo dos meus quando nos vermos, mas que se fechem quando for a hora de parar. Para me despedir, digo que te amo ainda. Quem sabe um dia, daqui cinco ou seis anos, em algum dos carnavais, eu decida esbarrar em você de novo? O mundo é tão pequeno afinal…

Por isabelanascimento

Professora e bacharel em Letras e Língua Espanhol, Mestra em Estudos literários com foco em ficção brasileira contemporânea.
Canal Literário no Youtube: Livro, leve e solta

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